CRÓNICA DA CORRIDA

É fácil explicar o que é que me fez percorrer 500 e tal km entre as 6 da tarde e as 6 da manhã saindo da praia indo a Lisboa à corrida e voltando (é claro que para o Pipas isto é normalíssimo e é o dia a dia), mas sei que a maior parte de vocês entendem.

A explicação chama-se GRUPO DE FORCADOS AMADORES DO APOSENTO DA CHAMUSCA

Foi bastante gratificante ver o grupo na 5ª feira no Campo Pequeno estar à altura das responsabilidades, estar por cima dos toiros e demonstrar grande sentido de união e entreajuda. Tenho visto com agrado as actuações do grupo este ano, começando na Chamusca, uma corrida de muito simbolismo com a primeira transição de Cabo do Ap Chamusca, passando por Albufeira, Sobral e Campo Pequeno. Noto um crescimento importante no grupo com muita gente nova com vontade de fazer e aparecer, aliada a muita experiência dos elementos mais velhos. Julgo que é muito importante aproveitar toda esta dinâmica e consolidar da melhor forma os 27 anos de história do Ap Chamusca, passando para esta nova geração os princípios pelos quais o grupo se tem e deve reger (Vontade, Humildade, Espírito de grupo, Dedicação à pega e ao grupo e Ambição de querer fazer cada vez mais e melhor pela pega e pelo grupo).

Bem, mas o que me pediram foi a crónica da corrida e é o que vou tentar fazer:

Cheguei ao hotel por volta das 21h e já tinham sido escolhidos os eleitos para o desafio que se avizinhava. Subi ao quarto onde a rapaziada se estava a fardar onde me pareceram todos motivados para a corrida. O Cabo Pipas teve a amabilidade de me dar uma senha de trincheira para que eu pudesse assistir à corrida mais perto do grupo.

Em relação à corrida os cavaleiros davam a garantia do empenho que sempre põem nas suas actuações e assim aconteceu. Os toiros de Romão Tenório que nos calharam em sorte saíram bem apresentados, com alguns sinais de mansidão, mas no geral cumpriram.

Para o primeiro o Pipas escolheu o Xico Montoya, forcado novo mas experiente e que para mim já executou pelo menos uma vez a pega que um forcado pode andar toda a vida à procura sem nunca encontrar. Nesta noite saiu-lhe um toiro que obrigava a que se recebesse muito bem, pois devido ao estado a que chegou à pega podia comprometer a reunião, o que veio a acontecer na 1ª tentativa em que o Francisco não conseguiu mandar na investida do toiro pois o toiro saiu por ele, humilhou muito e meteu um piton na altura da reunião.

Na segunda o Xico esteve mandão e fez uma pega tecnicamente irrepreensível, sendo muito bem ajudado por todo grupo com destaque para o Pipas, não só pela primeira que deu mas sobretudo pela alegria que sai lá de dentro como se estivesse agora a começar.

No nosso segundo o eleito foi o António Melara Dias e coube-lhe em sorte o toiro mais pesado da corrida e que andou completamente alheio ao esforço do João Ribeiro Teles Júnior, não reagindo ao castigo que o cavaleiro lhe impunha. Como acontece de vez em quando com estes toiros, quando o grupo salta à praça mudam completamente de comportamento, crescendo e querendo tomar conta da praça. Só depois de várias tentativas do bandarilheiro é que se conseguiu colocar o toiro. Destaco a maneira como o António cresceu para o toiro, recebeu o toiro e se fechou no toiro, muito bem ajudado por todo o grupo. É sempre muito importante nestas alturas a atitude e o António e o grupo tiveram-na. O Zagaio rabejou bem, querendo apenas lembrar não sendo uma critica, que o momento mais importante da arte de rabejar é a entrada no toiro.

Deixo para o fim um forte elogio para a ideia dos lenços amarelos (que julgo ter sido do Carrão) e que penso que funcionou muito bem. Tem sido muito importante o contributo que tem sido dado ao grupo por todos os que o tem acompanhado nas corridas, fazendo destas e dos jantares uma festa em que é um orgulho participar.

Para finalizar dou os meus parabéns ao grupo pela maneira como se portou e se tem portado nas últimas corridas, pedindo para nunca diminuírem o empenho, atitude e concentração nas mesmas, pois a vida de um grupo é feita de sucessos e fracassos que normalmente andam lado a lado.

Pelo Aposento da Chamusca, venha vinho

Vasco Coelho dos Reis

FOTOREPORTAGEM

Fotografias de Filipa Carujo.