CRÓNICA DA CORRIDA
Fui este domingo convidado a escrever algumas palavras sobre a corrida da Figueira da Foz do dia 7 de Agosto em que actuou o Aposento da Chamusca, o que aceitei com gosto, pois é sempre agradável escrever sobre êxitos.
Ainda bem que fui à Figueira da Foz no domingo, estava no Alentejo e não apetecia nada fazer quilómetros, mas valeu a pena.
Um ambiente que só se vive em praças a norte de Portugal, um público apaixonadamente desinteressado que vibra com as actuações dos artistas e reconhece com aplausos e outras manifestações o seu labor.
A corrida propriamente dita era séria, um curro do Eng. Rui Gonçalves a exigir concentração, garra e determinação, os cavaleiros, figuras da nossa tauromaquia (uns mais que outros) e para pegar três grupos de forcados, Ribatejo, Aposento Chamusca e Coimbra.
Na fardamenta já se sentia aquele ambiente de corrida decisiva, daquelas que marca uma temporada e deixa recordações que quando são más ficam sequelas difíceis de ultrapassar, mas quando são boas galvanizam o grupo e unem os forcados em torno de um ideal, fica-se com a consciência que trilhamos o caminho certo, que aquilo que defendemos para a pega do toiro e para a tauromaquia faz todo o sentido, vale a pena perseguir a “arte”.
A corrida da Figueira do passado domingo deixou um perfume no ar, daqueles que são intensos e difíceis de tirar só com água, certamente vai ficar na “pele” de muita gente.
Foi de facto uma actuação rotunda, plena de “mando” e “arte”.
O Cabo Pipas, que a cada corrida vai ultrapassando uma barreira com assinalável sucesso, renovou a confiança ao chamar o António Melara Dias para a pega do segundo da ordem e primeiro do Aposento, forcado amadurecido pelos toiros, e que este ano já concretizou uma das melhores pegas realizadas na Catedral do Toureio em Lisboa.
O toiro era como todo o curro, sério não se fixava arrancava-se de todo o lado e com muita pata, o António foi para o toiro tranquilo com a cara visivelmente alegre, e em nome do grupo brindou a sua sorte ao nosso amigo Samarra, que de certeza lhe deu uma mão, como se esperava o quadrúpede arrancou para comer o forcado que sereno, recuou e reuniu com eficácia, o grupo ajudou como sempre, bem, mas após o embate nas tábuas descompôs-se proporcionando ao António mais algum brilho.
De assinalar as ajudas de ressalto do eterno Feijoca e amavelmente do Cabo do Grupo do Ribatejo, a pega concretizou-se para gáudio de toda a assistência que vibrou com o momento.
Para o toiro que encerrava a actuação do grupo, saiu o Ricardo Cartaxo forcado que, podemos dizê-lo, estava com fome de toiros e estava decidido em saciar essa fome na Figueira o que o Cabo anuiu, mostrando mais uma vez que quem não arrisca não petisca, e foi um “verdadeiro manjar”.
O Cartaxo saltou para a arena decidido, brindou, ainda que não tivesse sido o brinde da sua eleição, e foi para o toiro, esteve garboso no cite, mandou na investida, aguentou, esperou, sacou-se aos estranhos do toiro e reuniu acoplando-se ao toiro como uma “lapa”, foi superiormente ajudado, o toiro fugiu ao grupo mas o Cartaxo pôde contar com o Tiago Franco e o Francisco Neves que estiveram para o ajudar. O público foi ao rubro.
Nos dois toiros o grupo ajudou como sempre soube ajudar, BEM, uma palavra ao Quarenta que está num excelente momento e deve continuar a “beber” todo o conhecimento que o Cabo e o Fakika, que são excelentes primeiros ajudas lhe podem dar e que certamente será uma mais valia aliada à sua aptidão natural.
Nas bancadas assistiu-se mais uma vez (já se está a tornar num caso sério) ao “inferno amarelo” como já ouvi chamar, e no qual me incluo, que se traduz no apoio incondicional dos amigos, simpatizantes e forcados que não se fardando esperam poder também eles dentro de praça mostrar o seu valor. Esta onda de entusiasmo mostra bem a força do nosso grupo (Carrão, só falta mesmo organizar esta claque, tu consegues, e “estamos muito sensibilizados…”;)).
O jantar, longe do glamour de outras épocas foi espartano, mas condizente com a época de vacas magras em que vivemos. De qualquer modo e como se espera reinou a alegria e boa disposição, discursos apropriados e sentidos.
Foi uma excelente tarde de toiros, obrigado rapaziada por darem estas alegrias a quem vos acompanha, continuem com o mesmo entusiasmo e ilusão.
Pelo Aposento da Chamusca venha vinho!!!
Pedro Mousinho
Fotografias por Filipa Carujo.
O COLISEU FIGUEIRENSE
Longos corredores que conduzem à sombra ou ao sol, à bancada ou à galeria, recantos onde animais e homens confraternizaram antes do duelo, por vezes mortal. Paredes caiadas pelos sons da banda, e decoradas com placas que homenageiam os homens que, ao longo dos tempos, foram a alma do Coliseu Figueirense.
Vem de longe a tradição tauromáquica na Figueira da Foz. A Rua de O Figueirense foi, até há não muitos anos, a Rua dos Curros. Lá, com "carros de bois, carroças, tábuas e tranqueiras", se fizeram as primeiras corridas de touros.
O interesse da população pela festa brava levou a Santa Casa da Misericórdia a construir, em 1850, uma praça de touros frente ao Convento de Santo António, num local que durante muito tempo foi conhecido como o Largo do Touril. Mas as condições estavam ainda longe das ideais, e um homem assumiu como sua a missão de alterar esse cenário, dotando a cidade com um recinto à altura da aficcíon figueirense.
João Antunes Pereira das Neves, médico e aficionado, uniu esforços com Aníbal Augusto de Melo e, em 23 de Março de 1895, ficou decidida a criação da Companhia do Coliseu Figueirense, uma sociedade por acções com um capital social de 10 mil réis. A obra seria feita num terreno de João das Neves, que o cedia por 30 anos, em troca de 25 por cento dos lucros líquidos e um camarote.
A construção do coliseu não podia ter chegado em melhor altura. Cerca de 500 figueirenses conseguiram trabalho, um bem raro naquele tempo. A cidade fervilhava de entusiasmo, na expectativa de um novo espaço de lazer que representava, ao mesmo tempo, um potencial de crescimento económico numa cidade castigada pela recessão.
Tanta era a ansiedade que a obra se fez em tempo recorde. Em apenas cinco meses a primeira praça de touros que, na Figueira, honrava essa designação, estava pronta a ser inaugurada. A primeira corrida foi marcada para 25 de Agosto, corria ainda o ano de 1895. Mais de 6 mil pessoas fizeram questão de assistir à exibição de Alfredo Tinoco da Silva, um reputado cavaleiro a quem coube a honra de encabeçar o primeiro de muitos cartazes da festa brava naquele espaço.
O semblante da Figueira mudou a partir desse 25 de Agosto. As tardes de tourada traziam à cidade aficionados de todos os cantos do país, e também muitos espanhóis. Relatos da época afirmam que as ruas da Figueira se transfiguravam quando havia corrida, enchendo-se de senhoras bem vestidas e cavalheiros de flor na lapela.
Ao longo dos anos, nomes como Ribeiro Telles, Fernando Salgueiro, Manuel dos Santos, Manuel Conde e Nuno Salvação Barreto escutaram os passodobles toreros, tocados pela "Figueirense" e "Dez D'Agosto", que desde a primeira corrida abrilhantam o espectáculo.
A pé ou a cavalo, viveram-se tardes e noites de grande aficcion no redondel da Figueira da Foz. Para muitos a festa brava faz parte da cultura portuguesa, para outros, porém, " a tauromaquia é a terrível e venal arte de torturar e matar animais em público".
Fonte: António Cruz, www.antoniocruz.net
OS TOIROS PARA A FIGUEIRA
Os Toiros para Domingo pertencem a Ganadaria do Engº Ruy Gonçalves Herds, com a antiguidade de 23 de Agosto de 1970, em Viana do Castelo.
Com divisa vermelha, branca e preta, apresenta-se fendida em ambas as orelhas, com procedência de Pedrosa e Fontaínhas e com o encaste actual de Soler, Barreiros e Parladé (Atanasio).
Iniciada em 1967 com a aquisição de reses Vinhas e aumentada três anos depois com vacas e sementais Pedrosa e, posteriormente, com mais um lote procedente do Visconde de Fontaínhas.
Praticamente diluído o originário de Vinhas, foram mantidas as proveniências anteriores do encaste Soler e Barreiros, refrescado com sementais de Oliveiras e Irmãos Ribeiro Telles.
Em 1993, foi a ganadaria renovada com um lote de vacas de José Manuel Sanchez (procedência Atanasio Fernandez) e um semental de "Castillejo de Huebra", agregando, posteriormente, outro lote proveniente de D. Adelaide Rodriguez Garcia de idêntica proveniência.
A título de curiosidade esta é a Ganadaria preferida do nosso cabo.